segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Ano Novo


RECEITA DE ANO NOVO
        Carlos Drummond de Andrade
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Reflexão 2012.

Quase Natal
Ao final de cada ano gosto de pensar sobre mim.Afinal a única pessoa que pode verificar meu progresso, minha formar de ver as coisas, sou eu mesma. Quando cheguei ao grupo de auto ajuda, ouvi muitas vezes frases, pensamentos que ficaram gravados na minha mente e me tornou uma pessoa que pode refletir sobre seus próprios atos, seu pensamentos, seus medos e enfim...seus fracassos e vitórias!Num outro contexto essas frases poderiam soar maldosas.Mas no grupo não é assim.Alguém disse : "Descobri a ideia e a filosofia do programa deste grupo.Pode ser resumida em: CUIDE DA SUA PRÓPRIA VIDA." Fiquei chocada na hora.Depois com o tempo comecei a me preocupar com minhas coisas ou com as coisas que são da minha conta.Foi ótimo pra mim!Melhorei a saúde, separei horas de descanso, comprei coisas que realmente valem a pena.Até minha forma de trabalhar melhorou.Não sou eu que vou mudar a educação.Posso contribuir, talvez de forma até significativa.Mas não posso fazê-lo sozinha.Preciso de parceiros, de decisões que ultrapassam os muros da escola.É  triste?É.Mas é assim!Por esse fim de ano, me resta torcer para que essas coisas melhorem.Não posso assumir responsabilidades de outros e nem proteger consequências dos atos dos outros. Não fica melhor assim?

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Dezembro


Canto de Natal
Manuel Bandeira

O nosso menino
Nasceu em Belém.
Nasceu tão-somente
Para querer bem.

Nasceu sobre as palhas
O nosso menino.
Mas a mãe sabia
Que ele era divino.

Vem para sofrer
A morte na cruz,
O nosso menino.
                              SEU NOME É JESUS.



quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Zé Linguiça


J.R. Guzzo

Pode até não ser uma verdade comprovada pela história, mas ninguém discute que se trata de uma belíssima ideia. Na Roma antiga, quando um grande general voltava de uma campanha vitoriosa no estrangeiro, fazia-se uma fabulosa procissão triunfal pelas ruas da cidade, o “triunfo”, para exibir diante do mundo a glória do comandante vencedor, e homenagear a grandeza que ele trazia à pátria. Era a honra máxima que um cidadão romano podia obter, e dava um trabalho danado chegar lá. Ele tinha de ter matado em combate pelo menos 5 000 soldados inimigos. Tinha de mostrar, presos, os chefes derrotados. Tinha de ter enfrentado um exército pelo menos equivalente ao seu. Tinha, sobretudo, de trazer sua tropa de volta para casa. O problema, nisso tudo, é que os romanos da Antiguidade eram gente que tinha em altíssima conta a modéstia pessoal — e, em conseqüência, fechava a cara para qualquer demonstração de soberba. O que fazer, então, na hora em que o general vitorioso desfilava perante a multidão como se fosse um rei? É aí que aparece a ideia mencionada acima. Logo atrás do “triunfador”, no mesmo carro puxado por quatro cavalos que ele conduzia, ficava um escravo que, de tanto em tanto tempo, lhe dizia baixinho ao ouvido: “Memento mori”. Nada melhor, provavelmente, para baixar o facho de qualquer alta autoridade que começa a se achar.

Esse procedimento poderia ser o tipo da coisa útil no governo brasileiro de hoje. Seria uma beleza, por exemplo, se o chanceler Antonio Patriota, ao desfilar pelo planeta com a sua bela pasta de couro, distribuindo em nome da presidente Dilma Rousseff as advertências do Brasil para os grandes, médios e pequenos deste mundo, tivesse algum recurso parecido — naturalmente, com as adaptações necessárias às nossas realidades atuais. Um oficial de chancelaria, digamos, andaria sempre atrás dele; só que, em vez do severo aviso romano, ficaria repetindo ao seu ouvido: “Lembre-se do Zé Lingüiça”. Deveria ser o suficiente para o dr. Patriota cair bem depressa na real. Ele se lembraria imediatamente de que vem do país do Zé Lingüiça — e ninguém, nem a presidente Dilma, consegue transformar em potência mundial um país que chega a ter no centro do maior espetáculo jurídico da sua história, mesmo por um momento fugaz, um cidadão chamado Zé Lingüiça. Quem acompanha o julgamento do mensalão pode estar lembrado desse Zé Lingüiça — o elo perdido entre um dos réus e a mala preta do professor Delúbio Soares, o tesoureiro do PT. Mas falar dele justo nesta hora, na suprema corte da nossa terra, em seus dias de solenidade máxima? Bem no momento em que cada ministro quer ser, no mínimo, um Cícero, e outros são capazes de escrever mais de 1000 páginas para dizer se um cidadão é culpado ou inocente? Pois é — aí vem o Zé Lingüiça, e com um personagem desses não há pose que resista. Some, na hora, o Brasil Grande. Aparece o Brasil de verdade.

Falou-se do ministro Patriota, mas o aviso ao pé do ouvido vale para qualquer grão-duque do poder público brasileiro, e para a própria presidente da República, quando começam a imaginar que são o rei Luís XV de França. Quanto à mensagem dos lembretes, então, há uma infinidade de coisas a dizer além do Zé Lingüiça. A voz poderia lhes recordar, por exemplo: “Todo ano há 50000 homicídios no Brasil”. Em três anos, com 150000 cadáveres, é o equivalente a uma bomba de Hiroshima. Ou: “O ensino médio brasileiro, pelos dados oficiais de 2011, tem nota 3,7, numa escala que vai de zero a 10”. Seria possível lembrar que as dez entradas de São Paulo, a cidade mais rica e possante do Brasil, formam uma das mais pavorosas sucessões de favelas de todo o mundo; nosso desenvolvimento, em qualquer lugar do país, tem o dom de atrair miséria. Também seria útil que nossas autoridades, em seus acessos de grandeza, lembrassem que a população brasileira está proibida de freqüentar áreas inteiras das grandes cidades, tomadas por bandidos, vadios e predadores diversos, como se vivesse sob o toque de recolher imposto por um exército de ocupação. Como essa gente que está no governo pode dormir em paz num país assim?

Esse pesadelo não foi criado pelo governo da presidente Dilma, nem será resolvido por ela. Mas então, como o rei da Espanha recomendou tempos atrás ao coronel Hugo Chávez, por que não se calam? Por que se metem na vida do Paraguai ou dão palpites na economia da Europa? Por uma questão de decência comum, e em nome do senso de ridículo, todos deveriam fazer, já, um voto de silêncio.

VEJA - 25/08/2012

terça-feira, 28 de agosto de 2012

O TEMPO DAS CIGARRAS


Enquanto ouço o canto frenético das cigarras vejo o programa eleitoral  "gratuito."
Observo cada fala e observo chocada que alguns nem sabem o que faz um vereador.Santo Pai do céu...
Como podemos melhorar a educação, a saúde, a segurança se nosso legisladores não sabem o que devem fazer  na câmara municipal?
Ando meu desanimada de ser brasileira, cansa!!!

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Para leitores e educadores

Para leitores e educadores transcrevo o artigo de Claudio de Moura Castro publicado na veja desta semana:

 A GRANDE REFORMA EDUCACIONAL                 

Contrariando os saudosistas, afirmo que a educação no Brasil nunca foi grande coisa, mediocridade percebida apenas por espíritos mais alertas. A diferença é que hoje há mais impaciência com as suas mazelas. Diante dessas críticas, passadas e presentes, nossas doutas autoridades são pressionadas a tomar providências enérgicas. Mas e os custos políticos? E os calos em que se há de pisar? E a truculência dos que não querem perder suas sinecuras e confortos? E as greves? Com espantosa criatividade, nossos líderes encontraram uma saída para esse impasse: criou-se um tipo de reforma que, além de indolor, tem visibilidade na mídia escrita e falada. A ideia é simples: em vez da truculência de remexer pessoas e instituições, reformam-se os nomes e títulos de tudo o que acontece na área. Brilhante!Sem trauma!
Antes tínhamos “instrução pública". Já faz tempo que mudou. Agora é "educação pública". Tínhamos primário, secundário e terciário (ou universitário). No secundário, havia o ginasial e o colegial. E esse último podia ser clássico ou científico. Estava ruim. Foi consertado para o 1º grau, 2° grau e 3º grau. Não melhorou o suficiente. Para sanar as mazelas restantes, foi criada a educação básica, dividida em ensino fundamental e médio. Em uma conversa entre pessoas de três gerações, os mais velhos rememoram suas experiências no primário, os menos velhos sobre o que faziam no 1º grau e a juventude reclama do fundamental. É o desejado diálogo intercultural. Estudei meu primário no Colégio Rodrigues Alves (RJ). Pouco depois, foi preciso salvar essa instituição, mudando seu nome para Escola Rodrigues Alves. Comecei no 1º ano, minha filha na 1ª série. E, se ela já tivesse um filho, ele iria cursar o 1º ano. Lá na década de 70, foi criado o curso de engenharia de operações. Mas parece que o nome não trazia bons augúrios. Daí a criação dos tecnólogos. Para expandirem a sua relevante contribuição, os luminares da educação transformaram recentemente esses programas em cursos superiores de tecnologia. Vejam que progresso! Havia uma prova chamada de Artigo 99. Ao que parece, não era um nome à altura dos seus nobres objetivos. Daí que virou supletivo. Mas imaginem se os novos e insignes educadores vão abrir mão de deixar sua marca indelével em uma iniciativa de tanta relevância social. Daí a sua decisiva contribuição, pois agora se chama EJA.

Quando fui para o colégio (que virou escola), tinha disciplinas de português. Mas a geração seguinte foi privilegiada, passando a estudar a língua pátria, obviamente, um enorme progresso. Pelo que sei, esse assunto voltou a se chamar português. Um retrocesso? Bem cedo, tinha de fazer composições, sobre diferentes assuntos. Mas nossas sábias autoridades acharam por bem corrigir um erro histórico. Para tal, aquela página de garranchos virou redação. Mas a reforma ainda era imperfeita; para completá-la foi necessária uma nova correção de rumo. Agora é produção de textos. No passado, tentávamos alfabetizar, nem sempre com sucesso. Agora foi salva a situação, pois o objetivo é o letramento. Viram que evolução? Quando estudei análise sintática, labutando nos Lusíadas, aprendi que havia sujeito, verbo, predicado e objeto. Felizmente para a nação, as novas gerações foram poupadas do aprendizado autoritário que me foi imposto. Agora, essas classificações gramaticais não fazem sentido algum, nem para professores nem para alunos. Importa o contexto, a inferência, a leitura de mundo... Antes, havia alunos valentões, agora praticam o bullying. Vejam como crescemos. Havia também alunos bagunceiros, agora temos vítimas de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Antes iam para as palmatórias, varas de marmelo e outros apetrechos do gênero. Agora, vão para a Ritalina (medicamento para hiperativos). É o progresso.
É injusto não sentir um profundo agradecimento para com as nossas autoridades educacionais. A elas devemos todas essas incontáveis reformas, realizadas sem traumas nem conflitos. Mas será que não está na hora de se preocuparem com os reais problemas da nossa educação?

segunda-feira, 2 de julho de 2012

CLARICE LISPECTOR

Para mim, é junto com Guimarães Rosa a maior da nossa língua.

Hoje falando ao telefone com minha filha, que chamo carinhosamente de Ineizinha ( quando criança, se eu a chamasse de "menina," ela chorava e dizia: "sou menina não, sou neizinha"),hoje morando nos USA, ela me disse emocionada que leu um artigo de duas laudas num jornal de Boston sobre Clarice. De uma professora de universidade, apaixonada por Lispector. Comentamos sobre a morte prematura de nossa escritora, do seu amor pelo português, ou como diz bem Ferrarezi, professor da universidade de Rondônia, pelo brasileiro, nossa língua repleta de influências maravilhosas.Dos povos indígenas, do francês, do árabe, e principalmente das nações africanas. Tenho neto americano, cujo pai é português.Ele nota a diferença do brasileiro com o português e questiona minha filha. O último foi não aceitar a mãe chamar "cachorro." Diz: "mãe, o nome é cão!"
Ineizinha acha difícil explicar a uma criança que ela estudou com freiras e que "cão" pra ela é o "demo," o "coisa ruim" e que em brasileiro temos muitas opções de sinônimos e que às vezes a palavra toma outro sentido!
Poi essa riqueza de vocabulário é que encantava Clarice e nos deixa também encantados com sua obra.

Quero iniciar oficialmente minhas férias com essa homenagem a Clarice, a grande Clarice Lispector.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Rio+20

Cá estou eu.

Amanheci nesta segundona, preocupada. Tantas notícias sobre a Rio+ 20 e com problemas para resolver. O que faço da TV que perdeu as feições?
Alguém pode pensar: ora leve ao técnico para recuperá-la. Foi o que fiz por longos anos. Na última vez que levei à TVSOM, para meu amigo Alemão dar uma olhada, o diagnóstico foi fatal: - “vamos fazer uma limpeza. Mas, por favor, quando tiver outro problema, pode descartá-la. E com ênfase: Não temos peças para esse modelo.”  
Foi aí que minha ficha caiu. Minha TV daquela marca japonesa, já sobreviveu a duas copas do mundo e mais algumas dezenas de novelas. Coitada, deve mesmo merecer um descanso. Então, nesta segunda feira amanheci disposta a dar uma solução que o caso merece. São 10h e 20min. Telefonei para o gabinete do prefeito pedindo uma luz. A moça gentilmente me passou o fone do Almoxarifado. Liguei e nada! Minto, a secretária eletrônica atendeu e blá, blá... desliguei. Fiz um levantamento dos  ferros- velhos da cidade e nenhum deles trabalham com sucata de TV. Liguei para o alemão e o funcionário disse que lá sempre aparece catadores de lixo que recolhem TVs com feição e sem ela. Não consegui telefone dos catadores. Parece que em Vilhena não se organizaram de forma que apareçam na lista telefônica. A batata na minha mão está esquentando! Meu marido que não percebe quase nada da ordem da casa me questionou: Que TV é essa?  O que faz jogada aqui no corredor? Precisa ter cuidado! Etc...etc..
Pois bem preciso ir para cozinha fazer almoço e ainda não resolvi o que fazer da TV que um dia trouxe tantas emoções e alegrias ao meu lar.
De qualquer forma amanhã será outro dia e quem sabe serei mais feliz!  

terça-feira, 22 de maio de 2012

Para ensinar a ler

Rosaura Soligo


Durante séculos, em alguns países, alguns poucos escravos aprenderam a ler, em condições extremamente adversas, às vezes arriscando a própria vida para um aprendizado que, devido às dificuldades, acabava levando vários anos.
Hoje, às vésperas do século 21, o Brasil é um país em que cerca de 44% das crianças de 1ª série ainda são retidas no final do ano porque não conseguem aprender a ler. E em que o tempo médio dos que conseguem finalizar o ensino fundamental é de 11,2 anos, quando deveria ser de apenas oito. Inúmeros especialistas em dificuldades de aprendizagem afirmam que pouquíssimos adolescentes e crianças possuem comprometimento cognitivo real, ou seja, não são capazes de aprender os conteúdos escolares como os outros. Então, se a esmagadora maioria das crianças pode aprender, é preciso considerar que há um sério comprometimento nas práticas de ensino; ou seja, a escola não está conseguindo cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. É preciso socializar cada vez mais os conhecimentos disponíveis a respeito dos processos de aprendizagem: quanto melhor o professor entender o processo de construção do conhecimento, mais eficiente será seu trabalho. Afinal, ensinar de fato é fazer aprender.
Os saltos do olhar
A compreensão da leitura depende da relação entre os olhos e o cérebro, processo que há longo tempo os estudiosos procuram entender. Nas últimas três décadas houve um avanço significativo nesse campo, mas ainda não se conseguiu desvendar inteiramente a complexidade do ato de ler.
Há mais de cem anos se descobriu que, ao ler, nossos olhos não deslizam linearmente sobre o texto impresso: eles dão saltos, em uma velocidade de cerca de 200 graus por segundo, três ou quatro vezes por segundo. É certo que, durante esses saltos, acontece um tipo de adivinhação, pois os olhos não estão de fato vendo tudo. O tempo de fixação dos olhos a cada vez é de cerca de 50 milésimos de segundo e a distância entre as fixações depende da dificuldade oferecida pelo material lido.
O que os olhos vêem depende muito do conhecimento do assunto. Quando lemos um texto cuja linguagem é fácil, ou cujo conteúdo é conhecido, podemos ler em silêncio até 200 palavras por minuto — a leitura em voz alta demora mais, pois o movimento dos olhos é mais rápido que a emissão de palavras.
O processo de leitura depende de várias condições: a habilidade e o estilo pessoal do leitor, o objetivo da leitura, o nível de conhecimento prévio do assunto tratado e o nível de complexidade oferecido pelo texto.
Em um mesmo espaço de tempo, os olhos irão captar de forma diferente a mesma quantidade de letras, dependendo da maneira pela qual elas são apresentadas: ao acaso, na forma de palavras, ou compondo um texto. Quanto mais os olhos puderem se apoiar no significado, ou seja, naquilo que faz sentido para quem vê, maior a eficácia da leitura.
Você sabia?
Em um mesmo intervalo de tempo, os olhos captam:
• aproximadamente 5 letras, em uma seqüência apresentada ao acaso;
• cerca de 10 a 12 letras, em palavras avulsas conhecidas;
• cerca de 25 letras (mais ou menos cinco palavras), quando se trata de um texto com significado.
O psicolingüista Frank Smith relativiza o poder da visão ao afirmar: sempre damos demasiado crédito aos olhos por enxergarem. Freqüentemente seu papel na leitura é supervalorizado. Os olhos não vêem, absolutamente, em um sentido literal. O cérebro determina o que e como vemos. As decisões de percepção do cérebro estão baseadas apenas em parte na informação colhida pelos olhos, imensamente aumentadas pelo conhecimento que o cérebro já possui.
Em outras palavras, poderíamos dizer que a gente vê o que a gente sabe.
Dois fatores determinam a leitura: o texto impresso, que é visto pelos olhos, e aquilo que está "por trás" dos olhos: o conhecimento prévio do leitor.
Uma criança ainda não alfabetizada pode ter as melhores informações a respeito do assunto tratado em um texto,mas, mesmo assim, não será capaz de ler, pois não dispõe dos recursos de decodificação necessários à leitura. Ela tem conhecimento prévio, mas não é capaz de desvendar a informação captada pelos olhos.
O contrário também ocorre: às vezes o leitor domina perfeitamente a linguagem escrita, mas, por falta de familiaridade com o assunto tratado, acaba não conseguindo compreender o texto que tem diante dos olhos.
O conhecimento prévio necessário à leitura, no entanto, não se resume ao conhecimento do assunto tratado pelo texto: envolve também o que se sabe acerca da linguagem e da própria leitura.
Saber como os textos se organizam e que características têm, saber para que servem os títulos e admitir que não é preciso conhecer o significado de todas as palavras para compreender uma mensagem escrita é tão importante para a leitura como ter intimidade com o conteúdo tratado.
O "fácil" e o "difícil" de ler têm a ver com tudo isso.
Ler vem antes de escrever
Não existe uma idade ideal para o aprendizado da leitura. Há crianças que aprendem a ler muito cedo, em geral porque a leitura passa a ter tanta importância para elas que não conseguem ficar sem saber.
Veja um depoimento de um desses leitores precoces, o escritor Alberto Manguel:
Aos 4 anos de idade descobri pela primeira vez que podia ler […]. Só aprendi a escrever muito tempo depois, aos 7 anos de idade. Talvez pudesse viver sem escrever, mas não creio que pudesse viver sem ler. Ler — descobri — vem antes de escrever.
Muitos leitores precoces não têm características peculiares, como inteligência acima da média ou privilégios sociais. Mas têm outro tipo de privilégio: considerar a leitura um valor e se acharem capazes de ler.
No Brasil, há muito tempo se considera que a iniciação à leitura deve ocorrer apenas aos 7 anos. Por isso, quando dependem da escola para aprender, nossas crianças começam a ler muito tarde.
As crianças aprendem a ler participando de atividades de uso da escrita junto com pessoas que dominam esse conhecimento. Aprendem a ler quando acham que podem fazer isso. É difícil uma criança aprender a ler quando se espera dela o fracasso. É difícil, também, ela aprender a ler se não achar finalidade na leitura.
Todos que lêem, lêem para atender a uma necessidade pessoal: saber quais são as notícias do dia, que novidades a revista traz, qual é a receita do prato, como montar um equipamento, quais as regras de um jogo, obter novos conhecimentos, apreender os encantos de um poema ou as emoções de um livro de aventuras.
A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto a partir do que está buscando nele, do conhecimento que já possui a respeito do assunto, do autor e do que sabe sobre a língua — características do gênero, do portador, do sistema de escrita… Ninguém pode extrair informações do texto escrito decodificando letra por letra, palavra por palavra.
Se você analisar sua própria leitura vai constatar que a decodificação é apenas um dos procedimentos que utiliza para ler: a leitura fluente envolve uma série de outras estratégias, isto é, de recursos para construir significado; sem elas, não é possível alcançar rapidez e proficiência.
Uma estratégia de leitura é um amplo esquema para obter, avaliar e utilizar informação. Há estratégias de seleção, de antecipação, de inferência e de verificação.
Estratégias de seleção: permitem que o leitor se atenha apenas aos índices úteis, desprezando os irrelevantes. Ao ler, fazemos isso o tempo todo: nosso cérebro "sabe", por exemplo, que não precisa se deter na letra que vem após o "q", pois certamente será "u"; ou que nem sempre é o caso de se fixar nos artigos, pois o gênero está definido pelo substantivo.
Estratégias de antecipação: tornam possível prever o que ainda está por vir, com base em informações explícitas e em suposições. Se a linguagem não for muito rebuscada e o conteúdo não for muito novo, nem muito difícil, é possível eliminar letras em cada uma das palavras escritas em um texto, e até mesmo uma palavra a cada cinco outras, sem que a falta de informações prejudique a compreensão. Além de letras, sílabas e palavras, antecipamos significados.
O gênero, o autor, o título e muitos outros índices nos informam o que é possível que encontremos em um texto. Assim, se formos ler uma história de Monteiro Lobato chamada Viagem ao céu, é previsível que encontraremos determinados personagens, certas palavras do campo da astronomia e que, certamente, alguma travessura acontecerá.
Estratégias de inferência: permitem captar o que não está dito no texto de forma explícita. A inferência é aquilo que "lemos", mas não está escrito. São adivinhações baseadas tanto em pistas dadas pelo próprio texto como em conhecimentos que o leitor possui. Às vezes essas inferências se confirmam, e às vezes não; de qualquer forma, não são adivinhações aleatórias.
Além do significado, inferimos também palavras, sílabas ou letras. Boa parte do conteúdo de um texto pode ser antecipada ou inferida em função do contexto: portadores, circunstâncias de aparição ou propriedades do texto.
O contexto, na verdade, contribui decisivamente para a interpretação do texto e, com freqüência, até mesmo para inferir a intenção do autor.
Estratégias de verificação: tornam possível o controle da eficácia ou não das demais estratégias, permitindo confirmar, ou não, as especulações realizadas. Esse tipo de checagem para confirmar — ou não — a compreensão é inerente à leitura.
Utilizamos todas as estratégias de leitura mais ou menos ao mesmo tempo, sem ter consciência disso. Só nos damos conta do que estamos fazendo se formos analisar com cuidado nosso processo de leitura, como estamos fazendo ao longo deste texto.
Aprender a ler e ler para aprender
A leitura como prática social é sempre um meio, nunca um fim. Ler é resposta a um objetivo, a uma necessidade pessoal.
Fora da escola, não se lê só para aprender a ler, não se lê de uma única forma, não se decodifica palavra por palavra, não se respondem a perguntas de verificação do entendimento preenchendo fichas exaustivas, não se fazem desenhos para mostrar o que mais gostou e raramente se lê em voz alta, ou seja: a prática constante da leitura não significa a repetição infindável dessas atividades escolares.
Uma prática constante de leitura na escola pressupõe o trabalho com a diversidade de objetivos, modalidades e textos que caracterizam as práticas de leitura de fato. Diferentes objetivos exigem diferentes textos e cada qual, por sua vez, exige um tipo específico, uma modalidade de leitura.
Em certos textos basta ler algumas partes, buscando a informação necessária; outros precisam ser lidos exaustivamente, várias vezes. Há textos que se podem ler rapidamente, mas outros devem ser lidos devagar.
Há leituras em que é necessário controlar atentamente a compreensão, voltando atrás para se certificar do entendimento; outras em que se segue adiante sem dificuldade, entregue apenas ao prazer de ler.
Há leituras que requerem enorme esforço intelectual e, a despeito disso, dão vontade de ler sem parar; em outras o esforço é mínimo e, mesmo assim, dá vontade de deixá-las para depois. Para tornar os alunos bons leitores — para desenvolver, muito mais do que a capacidade de ler, o gosto pela leitura e um compromisso com ela —, a escola precisa mobilizá-los internamente, pois aprender a ler (e também ler para aprender) requer esforço.
Os alunos devem ver na leitura algo interessante e desafiador, uma conquista capaz de dar autonomia e independência. E devem estar confiantes, condição para enfrentar o desafio e "aprender fazendo".
Uma prática de leitura que não desperte nem cultive o desejo de ler não é uma prática pedagógica eficiente.
“Tenho o livro aberto diante de mim, sobre a minha mesa. O autor, cujo rosto vi no belo frontispício, está sorrindo com satisfação e sinto que estou em boas mãos. Sei que, à medida que avançar pelos capítulos, serei apresentado àquela antiga família de leitores, alguns famosos,muitos obscuros, da qual faço parte. Aprenderei suas maneiras e as mudanças nessas maneiras, e as transformações que sofreram enquanto levaram consigo, como os magos de outrora, o poder de transformar signos mortos em memória viva. Lerei sobre seus triunfos e perseguições, sobre suas descobertas quase secretas. E, no final, compreenderei melhor quem eu — leitor — sou.” (Alberto Manguel)

Bibliografia
 KATO, Mary. O aprendizado da leitura. São Paulo, Martins Fontes, 1985.
 ____. No mundo da escrita — uma perspectiva psicolingüística. São Paulo, Ática, 1987.
 KLEIMAN, Angela. Texto e leitor. Campinas, Pontes/Unicamp, 1989.
 ____.Oficina de leitura. Campinas, Pontes/Unicamp, 1993.
 MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. São Paulo, Companhia das Letras, 1997.
 Parâmetros Curriculares Nacionais — Língua Portuguesa. Brasília, Ministério da Educação e do Desporto. 1997.
 SMITH, Frank. Compreendendo a leitura. Porto Alegre, Artes Médicas, 1989.
 Texto extraído do Módulo 1 – Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – PROFA.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12624%3Aensino-fundamental&Itemid=859

sábado, 10 de março de 2012

Um plano de aula

(da revista Nova escola)
TEMA: uma galeria virtual de arte

Objetivo
- Apreciar acervos online.

Conteúdo
- Arte visual.

Anos
4º e 5º.

Tempo estimado
15 aulas.

Material necessário
Computadores com acesso à internet, mapa-múndi e lista dos grandes museus de arte no mundo.

Flexibilização
Para alunos com deficiência visual

Para ajudar os alunos cegos a navegar pelas galerias virtuais vale lançar mão de softwares específicos para este fim, como o Jauss, por exemplo. Mesmo assim, procure saber, antecipadamente, que noções este aluno tem sobre as artes visuais (em especial sobre a pintura) e faça com que os colegas sirvam como narradores das obras consultadas - comentando para o aluno cores, formas e elementos que devem ser observados. No Google Art Project há uma série de pequenos textos explicativos das obras, que podem ser consultados pelo aluno cego com a ajuda do professor ou dos softwares já mencionados. Se necessário, antecipe algumas etapas e conte com a ajuda do AEE no contraturno. Você pode preparar materiais em braile sobre artistas e obras e imprimir algumas pinturas, ressaltando elementos com cola de relevo, para que o aluno aprimore sua apreciação.

Desenvolvimento
1ª etapa
Pergunte se alguém já visitou museus de arte e sabe os critérios para organizar uma coleção de arte. Explique que o curador é o responsável pelo trabalho e que, com base em propostas, escolhe as obras. 

2ª etapa
Apresente a lista dos grandes museus e situe alguns no mapa-múndi para mostrar o quão distantes estão do Brasil. Questione como a turma imagina que a internet pode ser útil para encurtar as distâncias. Explique que certas instituições disponibilizam parte do acervo na rede e que o Google Art Project reúne várias delas. 

3ª etapa
Divida as crianças em trios e incentive a navegação pelo Art Project. Sugira que visitem vários museus. Chame a atenção para os tipos de coleção exibidos (arte moderna, por exemplo), o ambiente (pintam as paredes ou utilizam cenários, por exemplo) e oriente o uso da ferramenta de zoom. 

4ª etapa
Divida as crianças em trios ou quartetos e sorteie um museu para cada um. Peça que naveguem por ela, apreciando o acervo, para apresentá-la aos colegas mais tarde. Se possível, como tarefa de casa, o grupo deve explorar todas as instituições na internet para que haja um debate após as apresentações. Supervisione as visitas virtuais e as apresentações, acrescentando observações.

5ª etapa
Convide os alunos a criar uma galeria virtual no Art Project e divulgá-la por e-mail para a comunidade escolar. Os critérios para a seleção das obras podem ser vários - o gênero (como paisagem ou retrato), a época ou a nacionalidade do artista, por exemplo. É possível também organizar uma galeria que apresente os destaques de cada museu. A turma deve recorrer ao que aprendeu durante a pesquisa e às apresentações da etapa anterior para fazer as escolhas.

6ª etapa
Com o acervo pronto, peça que cada estudante escreva uma legenda e registre na galeria. Sugira explorar o site novamente para buscar os elementos que normalmente as compõem (como informações a respeito do artista e técnica utilizada). Organize também a elaboração do texto de apresentação da coleção, para ser enviado por e-mail à comunidade escolar, juntamente com o endereço virtual da galeria, e providencie o envio das mensagens.

Produto final 
Coleção virtual de arte.

Avaliação 
Reúna as crianças para conversar sobre a relevância da preservação da memória da produção artística da humanidade e a respeito das perspectivas possíveis para a elaboração de um acervo. Busque nas falas dos alunos exemplos relacionados à experiência da visita virtual feita com o Google Art Project e analise os critérios usados para montar a galeria. Consultoria: Maria José Spiteri- Professora da Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul) e da Universidade São Judas Tadeu.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Greve em Rondonia...Déjá Vu...

 O tema GreveX Professores é recorrente.
Até parece aquela expressão francesa  "Déjá Vu" que traduzida literalmente quer dizer já visto o professor Neidson Rodrigues, gestor na educação em Minas, que infelismente nos deixou muito cedo, dizia que educar é um ato político e que sem essa postura política a favor dos que aprendem ou se educam é impossível fazer educação. Nossos problemas de classe começam aqui.Temos uma tradição de religiosos educadores que trabalharam pela fé.os religiosos educavam pensndo e trabalhando na expansão da fé.Ou na conversão dos infiéis, dos pagãos. A máxima desses educadores era o amor.
Estudei em colégio religioso, lá fiz a escola Normal.Aquela  que se vestia de azul e branco, trazendo sorriso franco, como dizia uma canção. Pois bem, ali se fazia a oração da professora, terminando que ser professor é um sacerdócio!
Muito tempo se passou desde os jesuítas, mas os políticos não se atualizaram: educação se faz com amor!
Bem claro que do professor pelos alunos.Aqui não está incluído nehum governador, nem prefeito, muito menos presidente da república.
Nosso amor foi ficando fraco, pois não recebe nehum incentivo, como flor foi murchando, sem água, sem adubo, sem fortificante.Chegamos ao século XXI, como uma classe em extinsão, alguns como os de Física,Química estão nos últimos da espécie.
Talvez precisemos chegar ao caos total para se valorizar os professores, como vi na Alemanha, na Suiça e na Bélgica.Quem sabe?

domingo, 22 de janeiro de 2012

Porque desisti!

Preciso escrever!
Depois de estudar um bocado,apenas um livro,já disse aqui,
cheguei à terrível realidade:- Não deu!
A bibliografia é extensa, não conheço nada dela, não posso
fazer prova de proficiência em espanhol,pra mim, no momento
a possível.Ocorre que optei por ele no mestrado, não sendo possível optar por ele agora.
Então, sorry periferia,usanso o velho jargão do Ibraim.
Só me restou dizer como meu amigo João Batista, da academia Albatroz: "vou me recolher à minha insignificância!
Então vai no vídeo a minha dor: O SHOW JÁ TERMINOU!!!

sábado, 7 de janeiro de 2012

Comecei o Ano com a cara nos livros!!!

Quando era pequena, llá em Nova Ponte-MG, início de ano era só festas até 6 de janeiro,dia de Reis. Meu tio Raul saía com sua Folia de Reis(hoje se chama Companhia) e recebíamos em casa aquele festa.Muita comida,doces(Hummmmmmmmmmmmmmm) e então o ano realmente começava.Que tempos!!!
Agora mal passou o Natal e estou estudando para enfrentar  uma selação para doutorado(será?). Estou com Antonio Cândido até a alma! E como gosto!
Achei uma palestra dele no youtube e já vi várias vezes! É sobre Graciliano Ramos. O professor fala da importância da literatura pós Semana de 22. Da importância de escritores do nordeste como Graciliano e Jorge Amado.Como escreveram sobre o povo comum, e fala de Suor; preciso ler urgentemente!!!
Uma obra literária deve ser criticada olhando vários aspectos, segundo Antonio Cândido.ASPECTOS SOCIAIS, PSICOLÓGICOS,RELIGIOSOS,etc...esses aspectos embora sejam externos, passam a ser internos constiuindo a sua estrutura.

Voltarei ao assunto.

2012 promete!